7 Princípios Éticos para Game Designers

Tá pensando que só porque nós trabalhamos com entretenimento, não precisamos ter cuidados éticos, é? Ok, o tema “ética” em jogos raramente é discutido. Talvez seja porque muitas vezes a afobação do trabalho não deixa brecha para essas reflexões ou talvez porque alguns jogos têm modelos de negócio que não dão espaço para tratar eticamente seus jogadores.

Mas aqui, vocês perceberão que Ética é um assunto que se mistura com boas práticas de Design e Marketing. (Ainda bem, pois isso gera incentivos que vão além de simplesmente “ser um cara legal“).

Sem mais delongas, vamos para o meu “ethical game designer starter pack“:

7 Princípios Éticos para Game Designers

1 – “MEU JOGO SERÁ DIVERTIDO” – Como já disse outra vez aqui, o jogo deve ser antes de mais nada, divertido. Soa óbvio demais? Pois tem gente que projeta jogos com mecânicas viciantes em que o jogador não toma nenhuma decisão relevante, não vê nada bacana acontecer, mas precisa continuar dando cliques no mouse ou taps na tela do smartphone. Meu ponto é: como Game Designer você proporciona diversão, que é algo bem pensado e trabalhado e não um simples vício vazio para zumbis. Conceba seus jogos para serem divertidos dentro de alguma proposta e mantenho-os fiéis a essa ideia.

2 – “TENHO QUE JOGAR LIMPO TAMBÉM” – Você precisa ser transparente com as pessoas que usufruirão de seu jogo. O que é preciso para jogar limpo com eles? Antes de mais nada, divulgar toda a informação necessária sobre o gênero do jogo, seu gameplay, restrições e demandas técnicas e financeiras, para que o jogador entenda do que se trata.  Basta colocar uma “ficha-resumo” do jogo na embalagem ou na tela de download, oras. Um exemplo: estava eu experimentando uma cópia razoável de Diablo II para smartphone que era classificado como “grátis”. Estava me divertindo muito matando monstros, saqueando calabouços e equipando meu bárbaro até descobrir que as evoluções mais importantes dos personagens custavam ao menos R$ 12 cada (e eram várias). Ora, ora, ora… Se o jogo era “grátis apenas no início” era bom avisar, não? Ele devia ter sido posto numa outra categoria de games, não nos “grátis” pois esse termo sugere que dá para jogar tudo sem pagar nada. E isso é apenas uma pequena amostra da falta de ética de alguns game designs para mobile.

3- “MEUS JOGOS PODEM COLOCAR ALGUÉM EM PERIGO?” – Acha exagero dizer isso? Pense na quantidade de acidentes de trânsito causados no auge da febre do Pokemon Go. Quando estamos tratando de jogos com realidade virtual e/ou aumentada é especialmente importante levar em conta onde, em termos físicos, os jogadores usarão seus produtos. O game designer deve imaginar os cenários mais bizarros de uso possíveis porque, acredite, os jogadores podem fazer bizarrices como brincar com seus smartphones e, distraídos, cairem em penhascos.

4 – “NÃO FAREI EXPLOITATIONWARE” – Ok, eu sei que esse princípio é mais duro de cumprir no mundo real das pressões por lucro e tal. Isso é especialmente verdadeiro se você for projetar um sistema gamificado. Mas caras, explotationware não é legal por dois motivos: a) Não é legal sacanear as pessoas, ora bolas; b) Sacanear as pessoas, tirando grana delas com malandragens, gera má reputação e é prejudicial pros negócios no médio prazo (Empresas com grana e fama que fizeram isso se deram bem por uns tempos e depois geraram a ira e rejeição de seus clientes). Aliás, tem um ótimo episódio do South Park justamente sobre a exploração anti-ética de jogadores pelos jogos Freemium. Clique aqui para assistir a esse episódio.

5 – “MAS EU AVISEI, HEIN” – O jogo que você está fazendo é perturbador, provocante, que aborda temas polêmicos? Isso tem implicações restritivas no ESRB, claro. Mas fora isso, é bom também colocar um bom warning, visível para os jogadores e/ou seus responsáveis. E trate de colocar a classificação indicativa de seu jogo bem a mostra se for lançá-lo comercialmente.

6 – “MEU PÚBLICO É DIVERSO, SIM” – Este princípio é meio de ética e meio de marketing, vai lá… É o seguinte: por mais que suas análises de marketing digam que seu jogo é para tal e tal segmento de consumidor é bom lembrar que a população de jogadores é sempre diversa. Quem disse que apenas garotões brancos e com grana jogam seu joguinho de luta? E mesmo que seja verdade quem disse que essa turma não se agradaria de interpretar uma bárbara negra? Projetar levando em conta diversas personas de usuários além da questão de ética também interfere nos resultados comerciais, hein? Quer um exemplo? Se o áudio do jogo traz uma informação pertinente, como um diálogo importante, que tal deixar legendas habilitáveis para jogadores surdos?

7 – “LEVANTE E VÁ PASSEAR” – Em alguns países da Ásia, como Coréia do Sul, centenas de jovens passam várias horas por dia em grandes salões para jogar MMOs, MOBAs e afins. Seja como lei, seja como prática sugerida, muitos estabelecimentos adotaram o Cooling Off (algo como “Relaxada“). Trata-se de uma mensagem na tela do PC dizendo: “Ei, cara, você já está há 4 horas jogando sem parar. Não é melhor levantar, esticar as pernas, tomar uma água?”. Pode ser que ignorem o aviso mas é seu dever ético tentar evitar que o entretenimento que você proporciona ponha os jogadores em situações de risco por questões de isolamento e sedentarismo.

 


Ética é um tema bastante complexo. 
Digo isso e admito que esses 7 princípios que acabei de citar estão aí abertos para discussão mesmo. Seja como for, como toda classe profissional tem seu código de ética,  nós do Game Design temos sim que levar em conta questões dessa natureza pois nossos produtos podem afetar as pessoas das mais variadas formas .

Alessandro Vieira dos Reis

Alessandro Vieira dos Reis (Redator) – É bacharel em Psicologia e mestre em Design de Interação. Atua como analista de gamification e game designer no DOT digital group em Florianópolis.

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