Gênero dos Jogos Digitais: Tipos e Impacto no Game Design

Os jogos possuem uma gama enorme de categorias e entender esse universo nos ajuda a compreender essa diversidade de tipos. Com o tempo, os gêneros de jogos saíram do básico e se tornaram muito ricos e complexos.

É necessário entendermos um pouco do assunto e vermos o que mudou de uns tempos para cá. Vamos compreender mais sobre essas classificações.

O ato de classificar um jogo

Se buscarmos rapidamente sobre “categorizar”, encontramos como conceito na wikipédia que isso “é o processo pelo qual ideias e objetos são reconhecidos, diferenciados e classificados”. Ou seja, é uma forma de compreender melhor esse universo, pois você facilita processos mentais como a  “percepção, a representação, a linguagem, a lógica e a aprendizagem”. E os gêneros de jogos digitais foram na mesma ideia.

Uma vez que os categorizamos, conseguimos assimilar as temáticas e jogabilidade que aquele tipo de jogo pode oferecer em função do gênero. Há também a facilidade de busca que o usuário encontra ao procurar pelo jogo desejado em função dessa seleção. Ou ainda, ajuda ao mercado a se direcionar para o tipo de jogo que deseja fazer, em função do gênero mais curtido pelos jogadores. Portanto, entender essas classificações podem nos ajudar a entender melhor o universo do jogo.

Mas como se pode classificar um jogo? Creio que um dos conceitos mais importantes é o de core gameplay. Veja a lista de jogos abaixo e tente pensar o que há em comum entre eles:

São muito diversificados, não é mesmo? Mas se pegarmos o core gameplay, ou seja, aquilo que define o jogo em sua essência, ficamos apenas com apenas os seguintes elementos: um local a ser percorrido e um veículo. Isso é o básico de um jogo de corrida. No entanto, dele pode-se derivar muito mais tipos que variam nos gráficos, na visão de jogo, no objetivo, na interação, power ups etc. Aqui esta a magia que torna única essa experiência que muitas vezes forma um subgênero. Por isso o core gameplay pode nos ajudar a chegar nessa essência do jogo.

 

Narratologia e Ludologia

  

Certa vez existiam duas vertentes que, vamos dizer assim, lutavam para entender qual era a sua importância nos games. Era uma forma de classificar e perceber os jogos: narratologia e ludologia. A primeira dizia que a narrativa era o mais importante para o jogo (como em Kingdom Hearts) enquanto a última preocupava-se mais com a interação, mecânica e a jogabilidade como um todo (um exemplo é o Candy Crush Saga). Claro que os exemplos aqui são para exemplificar o enfoque, até porque neles tem ludologia também ou narratologia um pouco.

Fato é que os jogos antigamente focavam muito mais em aspectos ludológicos do que na narrativa, usada muitas vezes como uma roupa bonita para dar só uma temática. Pegue um jogo de xadrez e verá que ali tem uma narrativa de reinos medievais se digladiando. Mas apenas isso, pois se substituísse por uma temática de personagens da Segunda Guerra Mundial, manteria a essência do jogo, poe exemplo. Quando a narrativa ganha um espaço mais interessante, ela deixa de ser apenas uma temática e começa a contribuir para ditar gêneros como o RPG e Aventura.

A verdade é que a indústria percebeu que a combinação da ludologia e da narratologia é que torna interessante o todo. No entanto, é importante dizer que é uma classificação insuficiente, pois se eu pegar dois jogos como Space Invaders e qualquer FPS, posso classificá-los como jogos de guerra, mas, olhe abaixo e reflita: eles são tão iguais assim? Por isso são necessárias  classificações mais precisas nessa salada de frutas dos jogos.

  

 

Gênero dos Jogos Digitais: algumas classificações

Se você já experimentou observar alguns portais que oferecem games gratuitos como o Jogos Friv 2, percebeu a diversidade de jogos e gêneros possíveis. Todavia acesse novamente e veja também como os gêneros ajudam a guiar o seu gosto, preferência e facilitam a sua escolha. De fato, são diversas variações de gênero de jogos, mas é fundamental para facilitar o acesso ao conteúdo.

Vamos conhecer algumas formas de classificação possíveis.

Gênero

Existem dois autores (Sato e Cardozo, 2008) que conseguiram organizar em sete tipos básicos os jogos. São eles:

  • RPG: jogos com narrativa muito forte, envolvente e bem elaborada perante trama, diversos núcleos e personagens. Exemplos: Final Fantasy, Dragon Quest, Kingdom Hearts…
  • Aventura: jogos cuja narrativa é trabalhada, mas não chega ao patamar de um RPG. Exemplos: Legend of Zelda, Tomb Raider, Assassins Creed…
  • Emulação: são jogos baseados no real, mas não precisos nessa realidade. Eles emulam a realidade. Exemplos: FIFA, PES, Burnout, Need for Speed…
  • Simulação: são jogos muito fiéis ao real, simuladores mesmo. Exemplo: Flight Simulator.
  • Estratégia: jogos que exigem comando de elementos para atingir certos objetivos, tropas, gestão de recursos etc. Exemplos: Warcraft, Age of Empires, Starcraft …
  • Ação: jogos mais objetivos e ação mais frenética, não tão profundos na narrativa. Exemplo: Contra, Rainbow Six, CS…
  • Puzzles: jogos que envolvem mais o raciocínio lógico e exercício da mente. Exemplos: Tetris, Candy Crush Saga, Brain Age…

Na verdade, existe sempre um gênero maior que predomina, mas na prática os jogos misturam esses gêneros para tornar a experiência mais interessante.

Plataforma

Perante plataforma, temos algumas classificações:

  • Console (videogames): aparelhos ligados à televisão e dedicados ao ato de jogar. Quem compra esse tipo de plataforma gosta de jogos e em geral é hardcore;
  • PC: equipamento em que se pode fazer multiplas tarefas, inclusive jogar. Quem compra hardware pesado dedica-se a jogos desse porte e é um gamer. Tanto que existem PCs gamers para esse propósito. Mas também há os casuais que estão ali passando um tempo jogando no PC;
  • Mobile: jogos para dispositivos móveis como celulares e tablets. O público é mais casual.
  • Web: jogos para se jogar online no seu navegador de internet. Alguns jogos são bem cooperativos online e tem um público diverso, mas ainda predominando o casual.

Cada uma das plataformas irá levar a um público mais direcionado e impacta também no orçamento a ser desenvolvido.

Finalidade do Jogo

Quanto à finalidade do jogo, temos algumas classificações possíveis:

  • Jogo Educativo/Sério: jogos com intuito de ensino-aprendizagem de algum conteúdo, processo, técnica;
  • Advergames: jogos de publicidade com intuito de promover uma marca, serviço ou produto ou tudo junto;
  • Jogo de Entretenimento: jogos com a finalidade unica de entreter, apenas diversão.

As preocupações vão crescendo ao passo de que você busca advergames ou jogos educativos para serem produtos finais.

Acessórios que ditam Gênero

Alguns gêneros acabam tendo diferenças devido a recursos novos que vem sendo inseridos nos jogos. Os de realidade são bem marcantes e tem dois tipos:

  • Realidade Virtual: você está dentro do ambiente virtual e tudo gira dentro desse universo. Geralmente você usa óculos próprio e adentra esse mundo virtual do jogo.
  • Realidade Aumentada: conciliada com o mundo real, aumenta a realidade desse mundo. Geralmente usada em um periférico para intermediar essa realidade aumentada (celular, por exemplo) e pode-se ver mais coisas no mundo real. Pokémon GO é um exemplo que ficou bem conhecido. Você via os Pokémon no ambiente da cidade e este era o ambiente do jogo a ser explorado.

A experiência aqui é muito imersiva e vai ser diferente de outros jogos. Por isso os periféricos podem mudar essa perspectiva de pensar no jogo de maneira profunda.

Modos de Jogo

Os modos de jogar com os jogadores também ditam vários jogos e gêneros, trazendo características interessantes para os jogos como:

  • Single Player: jogos para um único jogador. Exemplo: Sonic, Crash, Pacman…
  • Multiplayer Local: vários jogadores até um certo limite, mas no mesmo console ou plataforma. Exemplo: Street Fighter II, Mario Kart (SNES)…
  • Multiplayer Online: vários jogadores até um certo limite, mas online ou os dois (off e on). Exemplo: CS, Injustice, Agar.io…
  • Multiplayer Massivo Online: muitos jogadores e um limite desconhecido aos olhos do jogador. Exemplo: World of Warcraft, DC Universe Online…

Outras classificações

Convido você a visitar a wikipédia, cuja classificação em gêneros e subgêneros é muito rica e você irá se surpreender com a diversidade de jogos que existem.

 

Impacto no Game Design

A essa altura do artigo, você deve ter percebido que cada gênero e subgênero dita a importância do que você definirá no seu projeto de jogo (game design). Também vai lhe dar um alerta sobre o que pode ser feito de diferente para inovar, buscar novos gêneros ou combinar gêneros de uma forma bem interessante.

Fato é que, ao pensar em uma plataforma, você já necessitará adaptá-lo para aquele público, sem citar as limitações dela como tela e interação diferenciada. O gênero e seu subtipo já ditam algumas regras para categorizá-lo da mesma forma, mas nada impede uma mistura ou novo subtipo. Uma vez que se definem os gráficos, também será necessário pensar em como ficará a percepção do jogador, câmeras e direcionar a jogabilidade e arte para seguir essa linha desejada. Ao definir se o jogo é educativo, por exemplo, terá preocupações pedagógicas, além do entretenimento. Se o jogo for massivo online, vai  ter uma boa preocupação com aspectos de rede e escalabilidade, por exemplo. E assim para cada tipologia que for adotando. Por isso fazemos isso já no pré-projeto, pois o gênero escolhido de forma consciente e analisando o mercado vai ditar e direcionar todo o restante da produção conforme vai se caminhando.

 

 

Então, existem muitas classificações e gênero nos jogos digitais, mas isso permite riqueza de variações e inovação. O que você precisa é perceber isso, focar e usar ao seu favor para obter um produto que seja sucesso. Essa organização só tende a nos ajudar quanto a compreender de maneira mais fácil o universo dos jogos.

 

Referências

  • BATTAIOLA, A. L.; DOMINGUES, R. G.; FEIJÓ, B.; SWARCMAN, D.; CLUA, E. W. G.; KOSOVITZ, L. E.; DREUX, M.; PESSOA, C. A.; RAMALHO, G. Desenvolvimento de jogos em computadores e celulares. Revista de Informática Teórica e Aplicada, vol. 8, nº 2, 2001.
  • PEREIRA, G. A. Projeto e Desenvolvimento de Jogos Computacionais. Universidade do Estado de Santa Catarina. Trabalho de Conclusão de Curso. Joinville, 2006.
  • PINHEIRO, C. M.P. ; BRANCO, M. A. Uma tipologia dos games. UNIRevista, vol. 1, nº 3, 2006.
  • SATO, A. K. O.; CARDOSO, M.V. Além do gênero: uma possibilidade para a classificação de jogos. Artigo. SBGames 2008.
  • VALENTE, L. Guff: um sistema para desenvolvimento de jogos. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal Fluminense, 2005.
  • WIKIPÉDIA. Gênero de jogos eletrônicos. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/G%C3%AAneros_de_jogos_eletr%C3%B4nicos>. Acesso em 28 set. 2018.

Fabiano Naspolini de Oliveira

Meu nome é Fabiano Naspolini de Oliveira e atuo na área de jogos desde 2006, quando comecei estes estudos na faculdade. Sou de Araranguá – Santa Catarina. Sou formado em Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Especialista em Game Design e Docência para Educação Profissional, Mestre em Tecnologias da Informação e Comunicação e Pós-graduado em Gestão Estratégica de Marketing. Já tenho mais de 15 jogos no meu portfólio, tanto educativos, advergames quanto de entretenimento, feitos para jogadores e empresas. Toda essa experiência veio dos meus estudos, experimentos sozinho e, no passado, tive um estúdio de jogos chamado “Céu Games”. Atendi clientes com jogos customizados de acordo com a necessidade deles e ganhamos o Prêmio Mobile Fest de Aplicativos Móveis da Claro em Primeiro Lugar com o game Sperm Race. Também trabalhei como redator do site Nintendo Blast, cuja experiência me ajudou a analisar jogos dos mais diversos do mercado. Publiquei em 2021 meu primeiro jogo no Steam: o Born Race. Hoje sou game designer, professor, escritor de ficção e cuido do site Fábrica de Jogos, portal sobre desenvolvimento de jogos com canal no Youtube voltado a game designers. Meu foco está na educação dos desenvolvedores de jogos e, principalmente, game designers iniciantes.

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