Há uma definição de gamification muito frequentemente usada que é mais ou menos assim: “Gamification consiste usar mecânicas de jogos para fins não-lúdicos”. É comum quem entra em contato com essa definição pensar que projetar gamification é como projetar jogos, então. Isto é, que um game designer poderia imediatamente sair fazendo gamification… Talvez com 2 ou 3 rápidos ajustes.
Vim aqui dizer que as coisas não são bem assim. Lamento se isso for um balde de água fria aos entusiastas de gamification que já projetam jogos, mas lá vai….
O processo de concepção de gamification é outro, baseado em otimizar sistemas pré-existentes. Bem diferente do de jogos, que são sobre proporcionar entretenimento. Quando eu projetei a gamificação do portal do SEBRAE/SC, por exemplo, precisei entender um bocado sobre UX de portais corporativos e também sobre o marketing digital do relacionamento empresa-cliente.
Gamification pressupõe conhecimento sobre o sistema que será gamificado
Se você se meter a gamificar um app para Educação, precisa entender tanto de design de apps quanto de Educação. Cito como exemplo a estratégia de gamification que concebi para a Natura, que me levou a estudar a fundo tanto o app da Natura quanto o ramo de vendas de cosméticos.
“Pera aí. Nada se aproveita do Game Design, então?”
Muita coisa se aproveita. Gamification é sobre mexer com motivação, proporcionar engajamento e um bom game designer já está familiarizado com a ideia de manter o envolvimento do público.
Gamificação envolve documentar, especificar mecânicas de regras de forma clara e objetiva. Game designers (os bons, ao menos), já sabem fazer isso.
Ao projetar gamification é preciso pensar como será a apresentação dessas regras em arte audiovisual, interface, storytelling, peças de comunicação textual E os (bons) game designers já sabem fazer isso.
“Já manjo de Game Design. Como começo com Gamification?”
Comece com um projeto-piloto. Tente gamificar alguma coisa que você já conhece bem. Pode ser um portal na internet, um app de Saúde, uma máquina de café, o que for. Você notará que:
1.Precisa entender os usuários do sistema que você está gamificando:
O que querem, o que não querem, o que gostam, o que não gostam. Fazer entrevistas e ricas observações, junto de outros procedimentos de pesquisa em Design, entram aqui;
2.Gamification não é apenas botar pontos, medalhas e rankings em tudo:
Há dezenas de outras táticas de incentivo que você deve conhecer para uma estratégia de gamification rica. Daí estudar os frameworks de referência ajuda que é uma maravilha. Me refiro à obra de gente como Yu-Kai Chou, Amy Jo Kim e Andrew Marczewski (só para citar 3 dos meus favoritos);
3.Há aplicações de gamification para área diversas:
É possível criar projetos para Educação, Saúde, Esportes, Treinamento corporativo, Marketing digital (que foi o começo dela) e muitas outras. Mas a despeito da área gamificar é sempre sobre motivar gente para otimizar a performance em algo. Por isso coletar e tratar dados estatisticamente é essencial. Tanto para relatórios de ROI quanto para balanceamento da mecânica projetada.
É melhor não prosseguir com essa lista. Afinal a ideia aqui é apenas motivar você a começar.
Gamification é um recurso poderoso dentro do fascinante campo da Behavior Modification. Há muita coisa a aprender sobre. E se você já tem experiência com Game Design (com alguma sorte) já começa em vantagem! Mãos à obra!
Escrito por: Alessandro Vieira, Designer de Gamification no DOT digital group e parceiro da Escola Brasileira de Games.
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