Artigo: SCRUM como Metodologia Ágil na Produção de Jogos Digitais

Atualmente, apesar de complicado, quando desenvolvemos um jogo digital sozinho, temos que fazer a vez de programador, artista, gerenciar tudo, projetar, testar e muito mais. Mas, mesmo com a sobrecarga você consegue se orientar no que fazer, pois você criou e fez tudo. E em equipe como fica? Como fazer todos andarem integrados no mesmo caminho? Acredite: métodos ágeis e o SCRUM podem te ajudar.

Apesar da facilidade em dividir tarefas, a gestão aqui é decisiva. Assim, o jogo digital pensado sai do papel e é lançado aos jogadores.

Vamos então conhecer um pouco sobre métodos ágeis, mas focando em SCRUM.

O que são metodologias ágeis?

Roger Pressman, autor do livro “Engenharia de Software”, traz um comparativo muito interessante entre metodologias ágeis (como SCRUM) e as tradicionais (a clássica Cascata, por exemplo). A seguir: os primeiros elementos são das ágeis; os outros das tradicionais.

  • Indivíduos e interações acima de processos e ferramentas;
  • Software operacional acima de documentação completa;
  • Colaboração de clientes acima de negociação contratual;
  • Respostas a mudanças acima de seguir um plano.

metodos_ageis

Nesse sentido, em metodologias ágeis as pessoas são mais valorizadas, tanto os clientes internos (equipe) quanto externos.

Também é ideal ter pequenas entregas de partes do produto para o cliente já ir apreciando o trabalho. Então não irá se projetar tudo para depois pensar em fazer o desenvolvimento. Ele já vai ocorrendo a cada ciclo.

Os clientes são participantes ativos do processo. Eles acompanham cada ciclo, dão sugestões e isso reduz o retrabalho e se engajam mais no projeto.

Por que chamamos de ágil? Devido a facilidade de rapidez para responder mediante as mudanças de tempo, escopo, tecnologia e outros fatores que podem atrapalhar a produção.

Qual o motivo de utilizarmos esses métodos? Diminuir o custo das alterações no software. Quando o cliente acompanha desde o início, a equipe está mais engajada e as mudanças são mais fáceis de acontecerem, isso é resolvido. Sem citar que o cliente vê versões concretas prévias de como vai ficar o produto dele, e não somente no final. Mais um motivo que ajuda a evitar retrabalho e atender a expectativa dele.

Como exemplos podemos citar a XP (Extreme Programming), Kanban, RUP e SCRUM.

 

O que é SCRUM?

O nome é baseado em uma formação do Rugby e o espírito de equipe é muito presente nessa metodologia. Surgida no artigo “The New Product Development Game”, essa metodologia traz diretrizes para que possamos organizar nosso gerenciamento do projeto e permitir a participação mais ativa da equipe.

Existem empresas que o usam na íntegra; outros adaptam as suas necessidades. Aqui, vou explicar conforme minha experiência de uso para desenvolver games.

scrum_ciclo

Primeiramente, é definido o Product Backlog, ou seja, as funcionalidades do nosso jogo a ser entregue ao cliente. O Scrum Master – gestor Scrum – define junto a equipe esses requisitos. É uma etapa de pensar na ideia do jogo, levar os requisitos, definir o tempo necessário para realizar cada um (usa-se cartas para isso) e quais serão atendidos em cada ciclo do método, ou seja, os sprints.

Os sprints são ciclos de funcionalidades que devem ser feitos, geralmente durando um mês. Ao seu final, ele sempre deve gerar uma versão concreta do seu game para apresentar ao cliente. Ele pode aprovar, aprovar com alterações ou rejeitar.

Também todos os dias, durante o Sprint, a equipe se reúne em pé, formando uma roda. Cada um responde a três perguntas: “O que você fez?”, “O que você fará?” e “O que te impede?”. Isso facilita na ajuda de um ao outro, mas também para saber o andamento de cada um. É rápido e objetivo.

O sprint se repete, fazendo esse ritual de entrega de versões do jogo ao cliente potencial. Termina quando já não houver mais funcionalidades a serem feitas, nem alterações.

Todo o planejamento é acompanhado pelo Painel Scrum. Nele, constam as atividades pendentes, aquelas que estão em andamento, as feitas, outras não previstas, impedimentos, além de um gráfico demonstrando a quantidade de funcionalidades entregues em cada ciclo.

scrum_painel

Ou seja, temos como acompanhar e organizar do início ao fim a gestão do desenvolvimento do jogo digital.

 

Por que usar SCRUM no desenvolvimento de jogos digitais?

reuniao_ScrumAs vantagens do método são a rapidez, a flexibilidade, mais integração da equipe e, para jogos, é ideal para a criatividade, pois não tem muita burocracia, e formam equipes menores. Se você fizer um fluxo do jogo no quadro e bater uma foto, ele vale como documentação. Não necessita de algo muito belo. Tem que ser útil e claro.

Tudo é feito junto à equipe, pois gera mais comprometimento com os prazos estabelecidos. Quando alguém impõe o prazo, aquele que o estabeleceu se sente responsável por ele. Agora, se a equipe o define juntos, todos se comprometem.

Também a participação do cliente final ajuda no desenvolvimento. Você não vai fazer todo o jogo para depois descobrir que não atende o seu público-alvo. Já vai fazendo versões prévias dele para isso. Ajuda a ter uma versão dele “jogável” também, pois não ficamos apenas vendendo uma ideia. Temos algo concreto para demonstrar.

 

 

Scrum ajuda bastante a facilitar a gestão de uma forma bem simples e objetiva. Em jogos digitais, essa flexibilidade é necessária, visto que trabalhamos com criatividade. Métodos rígidos não contribuem muito nesse sentido. Sem citar a integração da equipe pois, sem integração, o resultado final ficará comprometido.

 

Referências

Fabiano Naspolini de Oliveira

Meu nome é Fabiano Naspolini de Oliveira e atuo na área de jogos desde 2006, quando comecei estes estudos na faculdade. Sou de Araranguá – Santa Catarina. Sou formado em Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Especialista em Game Design e Docência para Educação Profissional, Mestre em Tecnologias da Informação e Comunicação e Pós-graduado em Gestão Estratégica de Marketing. Já tenho mais de 15 jogos no meu portfólio, tanto educativos, advergames quanto de entretenimento, feitos para jogadores e empresas. Toda essa experiência veio dos meus estudos, experimentos sozinho e, no passado, tive um estúdio de jogos chamado “Céu Games”. Atendi clientes com jogos customizados de acordo com a necessidade deles e ganhamos o Prêmio Mobile Fest de Aplicativos Móveis da Claro em Primeiro Lugar com o game Sperm Race. Também trabalhei como redator do site Nintendo Blast, cuja experiência me ajudou a analisar jogos dos mais diversos do mercado. Publiquei em 2021 meu primeiro jogo no Steam: o Born Race. Hoje sou game designer, professor, escritor de ficção e cuido do site Fábrica de Jogos, portal sobre desenvolvimento de jogos com canal no Youtube voltado a game designers. Meu foco está na educação dos desenvolvedores de jogos e, principalmente, game designers iniciantes.

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